quarta-feira, outubro 26, 2005

Questões prévias

O ataque cerrado que o governo tem feito ao sector da justiça justifica um blog dedicado ao tema. Usa e abusa dos meios de comunicação. Demagógicamente, acena com os 'privilégios' dos agentes da justiça como causa primária para o estado desta. Espera que o cidadão comum e votante vá atrás da demagogia fácil. Anuncia medidas de 'moralização' e intenções de 'racionalização'. Apresenta-as como se fossem os meios para resolver os problemas da justiça. Mas não são...

Efectivamente o governo não ataca os problemas da justiça: ataca antes os agentes da justiça, criando assim mais problemas. Logo este governo não pretende objectivamente resolver os problemas da justiça, pretende antes resolver os seus problemas com os agentes da justiça.

Mas que problemas poderá ter o governo com os agentes da justiça?
Bom, se os há de certeza que não podem ser do governo em si.
Não houve tempo para isso!

Infelizmente este é um governo de maioria PS, não tem quem lhe ponha um travão nos próximos 4 anos, e o tempo das revoluções parece já ter passado. Um bando organizado, devidamente eleito, pode teóricamente fazer o que lhe apetece, não só na América mas também aqui. É um dos defeitos da democracia. Assim como os nacionais socialistas, que foram inicialmente eleitos, também estes socialistas nacionais estão a ultrapassar a linha da democracia e a pisar o risco do autoritarismo prepotente e gratuito, muito pelo facto de terem uma maioria e terem de a aproveitar para seu proveito.

É por isso que um poder judicial forte e autónomo é incómodo e traz problemas. É por isso que se fazem estas tentativas para o controlar e se lhes tenta reduzir a independência quando a pressão política não produz os resultados pretendidos.

Na raiz da questão podem muito bem estar os problemas que a elite do PS teve com a justiça. Aliás, só podem ser essas as razões. De nenhuma outra forma se justificariam as acções deste governo...

Por outro lado também pode ser incompetência pura, já que são vários os sectores que estão em alvoroço. É preciso uma de duas coisas para se atacar em simultâneo em tantas frentes: ou ser-se muito corajoso ou ser-se muito incompetente. É nítido que este governo disfarça a incompetência apresentando-a como se fosse coragem...

Mas também pode ser uma conjugação de ambas as coisas...

No início dos problemas houve uma tirada infeliz que nos permite ver o que se passa na mente desta gente, quando está em privado, e o respeito que têm pela justiça. O anterior dirigente do PS, e também candidato a primeiro ministro, declarou simpaticamente aos seus colegas a propósito do 'problema' pendente na justiça:
- Eu quero que a justiça se f**a!

Não há razão nenhuma para que o sucessor, e actual primeiro ministro, pense doutra maneira. O governo está firmemente empenhado em cumprir esse desejo.

Basta ver quem escolheu para ministro da tutela nesta área...
:-(